Thursday, January 04, 2007

1945

" Je vous dit que je suis morte "


Os pássaros acaso não os ouço mais. Aqui parece que não mais cantam e a neve parece que nunca mais irá derreter. Tudo é tão branco que meus olhos ardem ao olhar pela janela. Mas não consigo evitar, parece que se eu não ficar de vigília você não voltará.Os dias são de um frio intenso que se adentra pela solidão da noite. Está cada vez mais difícil conseguir lenha para a lareira. Não sei de onde eu tiro forças, às vezes sinto que vou sucumbir ao peso de minha própria tristeza, mas a sua imagem me traz uma sobrevida. Não sei até quando.
Há escassez de mantimentos para todos os lados. Na vila muitos já partiram deixando para trás os velhos e os doentes. Corta-me o coração vê-los. Muitos também já morreram e estão sendo enterrados em cemitérios improvisados nos arredores da cidade . Ás vezes demora dias para se descobrir os mortos dentro das casas.
Meu único companheiro nesses últimos meses tem sido Louis. Lembro-me no dia em que você o trouxe dentro de uma caixinha com uma fita azul amarrada no pescoço. Disse que era meu presente de Natal adiantado. Penso que ele anda se alimentando dos ratos que ainda resistem no porão. No entanto, já posso sentir seus ossos debaixo de sua macia pelagem acinzentada. Á noite, quando e estou sentada em frente à lareira, ele pula em meu colo e se posiciona como uma bolinha de pêlo, ronronando até pegar no sono. Ele me distrai, seu miado de bom dia me deixa feliz.Sinto sua falta, de um modo que nem sei descrever.
Gostaria de ter notícias suas e rezo para que esteja vivo e bem. O carteiro nunca mais veio, acho que o governo está tentando diminuir os gastos. Torço para que seja esse o motivo de eu não ter recebido notícias suas até hoje.


Je t'aime.

( correções no frances me digam..eu só brinco ^^ )